IX Encontro Científico do CINDEDI
SITUANDO O LEITOR E INICIANDO O DEBATE Muito sonho, expectativa e água benta não prejudicam a ninguém! Muito pelo contrário! Vejam que planejamos até um livro sobre a RedSig e ele saiu belo e faceiro, com seu lançamento previsto para acontecer, em Ribeirão Preto, durante o coquetel de abertura do nosso IX Encontro, no dia 13 de fevereiro de 2004. Ousamos também solicitar auxílio da FAPESP para um terceiro Projeto Temático, que nos foi concedido e irá apoiar as atividades do grupo até 2007. O grupo tem amadurecido, com recém-doutores e doutorandos assumindo vários orientandos, e aperfeiçoando-se na complexa arte de produzir junto com outros menos experientes, iniciando-os nas artes do ofício e supervisionando seu trabalho e aprendizagem. Com isso o grupo tem ganhado muita gente nova e cheia de qualidades. Sejam todos bem-vindos! Neste primeiro encontro do novo Temático, parece-me interessante retomar os objetivos nele propostos. Definimos como objetivo geral o aprofundamento e refinamento da perspectiva teórico-metodológica da Rede de Significações, seja enquanto proposta teórica para compreender o processo de desenvolvimento humano seja enquanto instrumento que norteia o fazer do pesquisador. Os objetivos específicos foram reunidos em três conjuntos: Um primeiro centra-se na investigação de três questões teóricas centrais à nossa perspectiva: processos de produção e transações dos significados e sentidos; dialogia enquanto constitutiva do sujeito e de seu desenvolvimento; processos de construção de subjetividades. Um segundo conjunto diz respeito ao estudo da ampla rede de significações que permeia tanto as práticas e políticas de educação infantil, como as práticas e políticas de adoção. O terceiro conjunto é de natureza mais metodológica, contemplando duas dimensões teórico-metodológicas que emergiram ao longo dos projetos anteriores: enfoques quantitativos e qualitativos na análise do desenvolvimento humano; e as oposições universalidade / diversidade e estabilidade / novidade. Os resumos apresentados inserem-se mais nos dois primeiros conjuntos, pois o terceiro tem sido mais trabalhado por Ana Almeida Carvalho. Aliás, foi ela, junto com Maria Isabel Pedrosa, quem inicialmente instigou o foco do atual encontro. Em setembro 2003, elas nos enviaram um e.mail propondo um debate sobre algo como: “Os conceitos de internalização/interiorização são necessários numa perspectiva interacionista?”. Apresentaram sugestões para que convidássemos pessoas para falarem de diferentes perspectivas: Lino de Macedo (Piaget), Ana L. Smolka e Zilma M.R. Oliveira (Vygotsky); Isabel Pedrosa (Wallon), Kátia Amorim, Ana Paula Silva (RedSig), tendo Ana Carvalho e eu para coordenar e instigar as discussões. Nós seguimos as sugestões e a maioria dos convidados aceitou o convite. Ana Carvalho, por sua vez, já provocou o debate de forma extremamente instigante, rascunhando nesse e-mail uma listinha de questões. Resolvi transcrevê-las nessa abertura do livro de resumos, para já irem esquentando para as nossas discussões. ● Por que Piaget e Vygotsky precisaram dos conceitos de internalização / externalização e Wallon não? ● Será que tem a ver com a concepção de Psicologia como ciência do indivíduo? Por exemplo, Vygotsky, tanto quanto Wallon, enfatiza o social. Mas, será que é o mesmo "social" nos dois casos? Quando Vygotsky fala sobre a internalização das funções psicológicas superiores (para ele, a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente construídas constitui o aspecto característico da psicologia humana), significa que outros animais não internalizam nada, ou só que não têm atividades socialmente e historicamente construídas? E se for este o caso, não seria esse sentido de social bastante delimitado e, por isso, talvez diferente do assumido por Wallon? ● Ainda, noções como "imagem mental" ou mesmo "função semiótica" não situam os processos relevantes dentro dos organismos / indivíduos? Isso não minimizaria a dinâmica interacional? ● Quando Vygotsky nos diz que uma operação que inicialmente representa uma atividade externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente, o que representa uma "atividade externa"? Externa a quê ou a quem, se é feita pelo organismo? Externa no sentido de envolver interação com o ambiente? Mas o que não envolve? O que se define como dentro / interno e fora / externo? Não haveria aí ainda um certo ranço de "aquisição/ transmissão" em vez de "construção"? ● Enfim, supondo que esses conceitos sejam necessários, como estudar esses processos? Como se dá a internalização / interiorização? Ocorre a cada momento, ou quando alguma coisa é "amarrada", "transformada", finalizada de alguma forma? Que coisa? De que jeito isso ocorre? Como sabemos que ocorreu? ● Esses conceitos têm lugar na perspectiva da RedSig? Qual lugar? Essa discussão não se articula com questões que levantamos várias vezes em nossos papos, em especial onde está a rede? Como vêem, pessoal, o debate vai ser quente! Maria Clotilde Rossetti-Ferreira Coordenadora do CINDEDI