A REDE DE SIGNIFICAÇÕES E O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Para todas nós, é um grande prazer podermos disponibilizar o livro da Rede de Significações (RedSig) em nosso site, possibilitando seu livre acesso a quem se interessar.
Em 2017, completam-se 13 anos da publicação do livro. Desde então, foram anos de muito trabalho, debates e críticas, que nos trouxeram muito aprendizado além de novos aprofundamentos sobre a perspectiva elaborada e sobre seu uso em pesquisa.
Nesse sentido, um ponto a ser aqui destacado em relação à perspectiva da RedSig é de que a novidade dela não está na discussão pontual dos elementos conceituais ligados ao desenvolvimento das pessoas, já densamente discutidos por outros autores. A novidade está no modo com que se buscou considerar de forma articulada os vários elementos constitutivos dos processos, de modo a se apreender a complexidade com que se dá o desenvolvimento humano, em suas diferentes idades (do bebê ao idoso), em seus diversos tempos (microgenéticos e ontogenéticos), nos múltiplos e entrelaçados contextos de que as pessoas participam e em relação às várias relações e aos aspectos histórico-culturais que contribui para constituir o caminhar do ser humano.
O nosso esforço foi elaborar uma perspectiva que permitisse considerar processos de estabilidade/mudança por que passam as pessoas ao longo da vida, a partir do entrelaçamento / do emaranhado / da rede de elementos e significados, os quais se encontram em contínua dinamicidade e transformação.
Desse esforço resultou a nossa proposta. Mas, ela trouxe importantes desafios à condução dos processos investigativos.
Assim, gostaríamos de compartilhar com vocês pelo menos um desses desafios, de modo que pode lhes servir de alerta.
Assistimos várias vezes à frustração de estudantes e pesquisadores de nosso grupo ou de outros grupos de pesquisa (ou o resultado um pouco precário de suas investigações) ao tentarem “aplicar” a RedSig enquanto um procedimento / um método de investigação, para coletar e analisar o corpus da pesquisa, seja ele composto por entrevistas, vídeos ou documentos.
A RedSig não é um método propriamente. Ela se constitui de fato enquanto uma perspectiva de estudo para apreender o desenvolvimento humano enquanto fenômeno complexo, na teia entrelaçada de elementos. Em função disso, ela não firma as ferramentas com que se irá registrar situações e analisar o corpus empírico.
Essas ferramentas devem ser escolhidas ou criadas/construídas a partir das pessoas em estudo; do foco e das perguntas de base; e, das hipóteses que estão sendo feitas pelo/a investigador/a, norteado/a pela visão epistemológica de complexidade proposta pela RedSig.
Não há uma receita ou uma proposta fechada de como estudar os processos. A perspectiva da RedSig contribui para guiar o olhar, provocar questões, a partir das quais os pesquisadores deverão buscar o modo de registrar – entrevista, vídeo, documento -, de identificar a unidade de análise, de discriminar e definir os conceitos em questão e de selecionar procedimentos de análise, dentre outros, que tenham tanto coerência teórico-conceitual com a proposta, como possam acompanhar os processos objeto de estudo.
A Redsig não apresenta uma receita ou uma proposta fechada de como estudar os processos. Ao pesquisador cabe o desafio de refletir, de discriminar e ter clareza de seus próprios conceitos para apreender a beleza e a riqueza, que usualmente fogem de modelos ditos ideais/normais de como se dá essa dinâmica do ser/vir-a-ser da constituição humana.
Esperamos que a proposta possa contribuir e a partir dela que novas questões possam ser elaboradas e desenvolvidas no também incessante movimento de construção do conhecimento[i].
[i] Ver também no nosso site:
- Rossetti-Ferreira; Amorim, K.S.; Oliveira, Z.M.R. (2008). Desafios Metodológicos na Perspectiva da Rede de Significações. Cadernos de Pesquisa, 38(133), 147-170.